segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Pela universalização das bibliotecas escolares na educação básica

 As bibliotecas escolares são cruciais na educação básica. Isso porque vivemos em uma sociedade que produz grande quantidade de informação, em que saber buscar e usar bem a informação para transformá-la em conhecimento torna-se capacidade fundamental dos cidadãos — processo denominado letramento informacional. Esse processo deve ser iniciado a partir da educação infantil nas bibliotecas escolares, com a atuação dos bibliotecários em parcerias com os professores e a comunidade escolar.

Muitas pessoas referem-se às bibliotecas escolares somente como locais de armazenamento de livros, o que denota visão bastante tradicional e distorcida do conceito. As bibliotecas escolares atuais possuem acervo diversificado com materiais impressos, digitais e audiovisuais, por exemplo, livros, revistas, jornais, jogos, acesso à internet, DVDs, instrumentos musicais, entre outros. Ao mesmo tempo, são espaços de aprendizagem, investigação, acesso aos bens culturais, lazer e que incentivam a leitura.

Muitos estudos apresentam a contribuição das bibliotecas escolares para a aprendizagem. A Associação de Bibliotecas Escolares Australianas (Asla), por exemplo, identificou mais de 400 pesquisas que mostram impacto significativo na aprendizagem. Em consequência disso, o governo australiano ampliou o orçamento anual para as bibliotecas escolares.

O estudo de Ohio, realizado em 2005, com 13.123 estudantes da educação básica nos Estados Unidos, verificou que o uso sistemático das bibliotecas, com atuação de bibliotecários, propicia aos aprendizes melhoria no conteúdo das pesquisas, na produção textual, no produto final da pesquisa e nas atitudes em relação ao uso da biblioteca. Os estudantes também melhoram os processos de busca e uso da informação, a capacidade de usar computadores de forma crítica e tornam-se leitores motivados, com mais autonomia e senso crítico.

Além disso, temos o exemplo da Finlândia, que obteve excelentes desempenhos nas últimas avaliações do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa). O ensino finlandês centra-se no aprender fazendo, o que requer, frequentemente, a realização de projetos de pesquisa para resolução de problemas. Para tanto, conta com sólida rede de bibliotecas escolares para apoiar a aprendizagem.

No Brasil, ao contrário das experiências citadas anteriormente, a situação das bibliotecas escolares é bastante precária. Em 2010, foi sancionada a lei de universalização das bibliotecas escolares, que prevê a obrigatoriedade delas no ensino público e privado, a ser efetivada num prazo máximo de 10 anos, respeitada a profissão de bibliotecário.

Contudo, o censo escolar de 2013 mostra que mais da metade das escolas não possuem bibliotecas. E muitas dessas, na verdade, não passam de salas de leitura, sem infraestrutura de informação adequada e sem contar com o trabalho do bibliotecário. Os baixos percentuais de cobertura podem indicar que, se não houver mudanças, a lei não será cumprida até 2020.

Algumas hipóteses possíveis para explicar tal fato relacionam-se, primeiramente, ao desconhecimento do que seja uma biblioteca escolar e das possibilidades de serviços e produtos que podem oferecer. Em segundo lugar, destaca-se o desconhecimento do impacto das bibliotecas na aprendizagem e, por fim, o fato de que investimentos em bibliotecas têm relação direta com os níveis cultural e educacional de um país.

Sobre a questão educacional, apesar de ter havido melhorias no sistema educacional brasileiro, a maior parte das escolas é tradicional, com aulas mais expositivas, estudantes passivos e currículo pouco flexível. Nessa concepção, os livros didáticos constituem a principal fonte de informação em sala de aula, os estudantes não são estimulados a pesquisar múltiplos pontos de vista sobre um assunto e verificar a confiabilidade da informação. Por sua vez, os professores não foram formados para pesquisar e usar a biblioteca, ou seja, nem sempre há incentivo para o uso dos recursos propiciados pelas bibliotecas escolares.

Assim, além da obrigatoriedade da lei, é preciso que os brasileiros tenham consciência acerca da importância das bibliotecas escolares para o ensino-aprendizagem, que exijam escolas com bibliotecas de qualidade e que a atuação de um bacharel em biblioteconomia (bibliotecário) seja crescente. Mais ainda, é fundamental a exigência de uma escola que ensine os estudantes a buscar e a usar a informação de forma eficaz e eficiente para que possam resolver problemas com autonomia e visão crítica ao longo da vida.

Correio Braziliense, p. 11, de 20/10/2014 

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