As bibliotecas escolares são cruciais na educação básica. Isso porque vivemos em uma sociedade que produz grande quantidade de informação, em que saber buscar e usar bem a informação para transformá-la em conhecimento torna-se capacidade fundamental dos cidadãos — processo denominado letramento informacional. Esse processo deve ser iniciado a partir da educação infantil nas bibliotecas escolares, com a atuação dos bibliotecários em parcerias com os professores e a comunidade escolar.
Muitas pessoas referem-se às bibliotecas escolares somente como locais de armazenamento de livros, o que denota visão bastante tradicional e distorcida do conceito. As bibliotecas escolares atuais possuem acervo diversificado com materiais impressos, digitais e audiovisuais, por exemplo, livros, revistas, jornais, jogos, acesso à internet, DVDs, instrumentos musicais, entre outros. Ao mesmo tempo, são espaços de aprendizagem, investigação, acesso aos bens culturais, lazer e que incentivam a leitura.
Muitos estudos apresentam a contribuição das bibliotecas escolares para a aprendizagem. A Associação de Bibliotecas Escolares Australianas (Asla), por exemplo, identificou mais de 400 pesquisas que mostram impacto significativo na aprendizagem. Em consequência disso, o governo australiano ampliou o orçamento anual para as bibliotecas escolares.
O estudo de Ohio, realizado em 2005, com 13.123 estudantes da educação básica nos Estados Unidos, verificou que o uso sistemático das bibliotecas, com atuação de bibliotecários, propicia aos aprendizes melhoria no conteúdo das pesquisas, na produção textual, no produto final da pesquisa e nas atitudes em relação ao uso da biblioteca. Os estudantes também melhoram os processos de busca e uso da informação, a capacidade de usar computadores de forma crítica e tornam-se leitores motivados, com mais autonomia e senso crítico.
Além disso, temos o exemplo da Finlândia, que obteve excelentes desempenhos nas últimas avaliações do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa). O ensino finlandês centra-se no aprender fazendo, o que requer, frequentemente, a realização de projetos de pesquisa para resolução de problemas. Para tanto, conta com sólida rede de bibliotecas escolares para apoiar a aprendizagem.
No Brasil, ao contrário das experiências citadas anteriormente, a situação das bibliotecas escolares é bastante precária. Em 2010, foi sancionada a lei de universalização das bibliotecas escolares, que prevê a obrigatoriedade delas no ensino público e privado, a ser efetivada num prazo máximo de 10 anos, respeitada a profissão de bibliotecário.
Contudo, o censo escolar de 2013 mostra que mais da metade das escolas não possuem bibliotecas. E muitas dessas, na verdade, não passam de salas de leitura, sem infraestrutura de informação adequada e sem contar com o trabalho do bibliotecário. Os baixos percentuais de cobertura podem indicar que, se não houver mudanças, a lei não será cumprida até 2020.
Algumas hipóteses possíveis para explicar tal fato relacionam-se, primeiramente, ao desconhecimento do que seja uma biblioteca escolar e das possibilidades de serviços e produtos que podem oferecer. Em segundo lugar, destaca-se o desconhecimento do impacto das bibliotecas na aprendizagem e, por fim, o fato de que investimentos em bibliotecas têm relação direta com os níveis cultural e educacional de um país.
Sobre a questão educacional, apesar de ter havido melhorias no sistema educacional brasileiro, a maior parte das escolas é tradicional, com aulas mais expositivas, estudantes passivos e currículo pouco flexível. Nessa concepção, os livros didáticos constituem a principal fonte de informação em sala de aula, os estudantes não são estimulados a pesquisar múltiplos pontos de vista sobre um assunto e verificar a confiabilidade da informação. Por sua vez, os professores não foram formados para pesquisar e usar a biblioteca, ou seja, nem sempre há incentivo para o uso dos recursos propiciados pelas bibliotecas escolares.
Assim, além da obrigatoriedade da lei, é preciso que os brasileiros tenham consciência acerca da importância das bibliotecas escolares para o ensino-aprendizagem, que exijam escolas com bibliotecas de qualidade e que a atuação de um bacharel em biblioteconomia (bibliotecário) seja crescente. Mais ainda, é fundamental a exigência de uma escola que ensine os estudantes a buscar e a usar a informação de forma eficaz e eficiente para que possam resolver problemas com autonomia e visão crítica ao longo da vida.
Correio Braziliense, p. 11, de 20/10/2014
Nenhum comentário:
Postar um comentário