sábado, 16 de abril de 2011

Os universitários e os pontos de vistas diversificados

“Professora, isso é muito confuso! Como pode haver vários entendimentos sobre o mesmo conceito?” Essa é uma questão relativamente corriqueira, com que me deparo no exercício docente. Tal fato, possivelmente, relaciona-se à experiência de aprendizagem ao longo da vida acadêmica. Em geral, os estudantes, ao cursarem a graduação, deparam-se com amplo universo conceitual bem diferente daquele que estavam acostumados na educação básica.
Na educação básica, em geral, ensinam-se os conteúdos disciplinares como se fossem verdades absolutas. Os estudantes utilizam basicamente os livros didáticos e paradidáticos, que não discutem os fundamentos em que as idéias se estruturam, como surgem as pesquisas sobre o assunto e o motivo pelo qual se deve aprender os referidos conteúdos. Evidentemente, houve avanços na educação, mas em geral, as aulas ainda são expositivas e o aprender a aprender fica mais no discurso do que na prática. Além disso, as escolas não formam professores pesquisadores e tampouco contam com bibliotecas bem estruturadas com recursos e serviços adequados.
Em pleno século XXI, convivemos com vários mitos e crenças no nosso cotidiano. As pessoas tomam decisões importantes sem recorrer aos instrumentos de pesquisa para resolver seus problemas. Decisões democraticamente tomadas em grupo, muitas vezes, consideram a quantidade de opiniões e visões pessoais, em detrimento do argumento científico. Estamos muito impregnados pela "doxa"( crença comum ou opinião popular). Carl Sagan, na obra “o mundo assombrado pelos demônios”, de 1996, ressalta a necessidade de uma postura cética e abertura da mente dos cidadãos para combater esses males. De acordo com ele, "as conseqüências do analfabetismo científico são muito mais perigosas em nossa época do que em qualquer outro período anterior".
John Dewey argumenta, no início do século XX, sobre a importância das pessoas desenvolverem o pensamento reflexivo para lidar com um mundo em contínua transformação. Reflexão, nesse contexto, refere-se à ação de buscar informação, compreendê-la e organizá-la para se chegar a uma conclusão. Portanto, o pensamento reflexivo se relaciona ao método científico, necessário para a formação do espírito científico, crítico responsável e autônomo. Essa é uma tarefa da escola e da sociedade!
A Finlândia é um exemplo de país que investe muito em educação e na formação dos professores, sendo considerado o melhor sistema educacional do mundo. São vários fatores que influenciam a educação finlandesa, porém identificando os principais, podemos citar, grosso modo, que os professores são bem formados, lidam com sistema de ensino descentralizado, em que têm autonomia para tomar decisões. O ensino-aprendizagem centra-se no “aprender fazendo” e nas necessidades dos aprendizes. Além disso, de acordo com Hannu Uusi-Videnoja, Embaixador da Finlândia no Brasil, os finlandeses são leitores ávidos e utilizadores das bibliotecas, contando com abrangente rede de bibliotecas que apoia a educação escolar.

Pesquisar, ler, aprender fazendo e usar bibliotecas são estratégias utilizadas na Finlândia, que ajudam os aprendizes a desenvolverem espírito científico e a perceberem a pesquisa como recurso de produção de conhecimento e processo contínuo da ciência, em oposição à idéia de verdade absoluta e estática. No referido processo, aprende-se usando fontes de informação diversificadas e avaliando os diversos pontos de vistas, o que leva o aprendiz a compreender o assunto sob várias perspectivas, processo crucial para a formação crítica.
Como as bibliotecas escolares são recursos pouco utilizados na educação brasileira, devido à adoção de propostas pedagógicas que não favorecem a resolução de problemas e as pesquisas, e também pela falta das mencionadas instituições no ambiente educacional, encontraremos ainda muitos estudantes perplexos ao se depararem com a leitura de vários textos e a percepção de distintos pontos de vista sobre o mesmo assunto.  São estudantes que utilizavam basicamente livros didáticos, tiveram aulas mais expositivas, faziam tarefas sobre conteúdos sem entender a funcionalidade deles e não usavam bibliotecas em sua vida pessoal e acadêmica.

GASQUE, Kelley Cristine Gonçalves Dias. Os universitários e os pontos de vistas diversificados. Blog informar e conhecer. Disponível em: < http://kelleycristinegasque.blogspot.com/2011/04/os-universitarios-e-os-pontos-de-vistas.html>.

2 comentários:

  1. Acredito que a dificuldade com relação a leitura de textos mais complexos na universidade está bem próxima a esta ideia de conhecimento verdade passado aos alunos do ensino escolar. Faz muita falta a biblioteca escolar bem estruturada e com acervo que realmente faça diferença no conteúdo escolar, que vá além do livro didático.

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  2. É verdade, Andreia! Acredito que o uso mais eficaz e eficiente das bibliotecas escolares está relacionado com a concepção pedagogica. O que acha?

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