A educação é um processo abrangente que influencia diretamente várias áreas e setores da sociedade, bem como é influenciada por eles. Pode-se dizer que possui natureza multirreferencial, no sentido em que se identifica o caráter plural dos fenômenos sociais e a impossibilidade de delimitar claramente todos os fatores envolvidos. Contudo, vários especialistas reconhecem e consideram o investimento em educação recurso crucial para minimizar a violência.
Atualmente, levantamos da cama com a sensação de que algo de ruim pode acontecer conosco ou com alguém próximo. Esse sentimento se fortalece à medida que passamos os olhos pelos jornais, revistas ou internet. Os meios de comunicação ressaltam a necessidade de estarmos atentos ao caos que varre as cidades brasileiras. Antigamente, as cidades interioranas eram consideradas mais tranqüilas, mas parece que a violência não as escolhe mais pelo porte. Além disso, a impunidade parece reforçar a facilidade com que se pode destruir a vida alheia, em um sentido mais amplo. Por isso, vivemos algo parecido com a guerra civil.
O conceito de violência abrange questões como a guerra, a fome, os crimes, os preconceitos e suas manifestações. No perímetro urbano, as gangues, tráfico de drogas, depredação do patrimônio público, roubos, assassinatos, seqüestros, sujeira, falta de estrutura, pobreza, provocam efeitos nocivos nas pessoas e nas regras de convivência, de tal forma que se impregnam e prejudicam a qualidade das relações sociais e de vida das pessoas.
Ao questionarmos sobre a origem desse mal que nos rodeia e cerceia, identificamos fatores como: as carências das populações de baixa renda; tolerância cultural aos desvios sociais (e aqui entra o famoso jeitinho brasileiro); problemas nas instituições de controle social; condições e políticas sociais e econômicas precarias, dentre vários outros. Porém, certamente o pouco contato das crianças com temas vinculados à cidadania, a falta de relação entre o conhecimento apreendido na escola e a vivência do cotidiano, a qualidade da educação, bem como a falta de compreensão da ética planetária encontram terreno fértil para a selvageria. A escola precisa agir mais em prol da paz!
Obviamente, a educação não é a panacéia para conter a violência, mas se estiver inserida nas políticas públicas estruturadas, que abranjam acesso à informação, à saúde, ao trabalho, à cultura e ao esporte, pode se transformar em recurso essencial contra as manifestações da violência. O envolvimento dos familiares nesse contexto também amplia as probabilidades de sucesso. Isso porque muitos pais não conseguem mais disciplinar os filhos e precisam de orientações e reflexões que os ajudem a dirimir duvidas cotidianas.
Nossa juventude não respeita mais os idosos, não sabe qual é a hora de falar e de ouvir, possui dificuldades em seguir normas simples de conduta. Muitas dessas atitudes são reflexos claros da educação que recebem em casa. A psicologia caseira distorceu a compreensão de democracia e cidadania, em que o “quem ama, educa” virou apenas retórica. Em nome do amor e (da aprovação dos filhos), os pais se tornam, muitas vezes, amigos dos filhos sem o dever de orienta-los e forma-los adequadamente.
A educação deve vista como um processo complexo e abrangente. A escola por si só já é um espaço de conflitos, de trocas de experiências e de culturas, devendo ser entendida como um espaço de socialização, cujo papel é ensinar às crianças a respeitar essas diferenças e o espaço dos outros. Mas nâo cabe somente a escola o papel de educar, que deve ser compartilhado com sociedade como um todo. Isso passa por mudanças nas linhas pedagógicas adotadas atualmente, no papel das famílias e nas prioridades do governo.
Professora Kelley Cristine Gasque
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